Fui promovido! E o imposto de renda?

Conheça Carlos e veja que o imposto de renda pode te fazer ganhar menos, mesmo depois de uma promoção.

Carlos cursava o primeiro semestre de engenharia civil, mas ainda era considerado muito “iniciante” para conseguir um estágio na área. Porém, quando viu o plano de carreira da Construtora São Bento decidiu que era lá que ele trabalharia! Afinal, ele entraria como assistente de recepção e ganharia um salário mínimo, mas poderia ser promovido a gestor em 02 anos e, depois da faculdade, poderia se tornar engenheiro da empresa. Enfim, ele conseguiria a experiência necessária!

Após algum tempo, Carlos demonstrou tamanho valor para a empresa que foi promovido a recepcionista principal. Com isso, passou a ganhar R$ 1.900,00. Ele sempre notou os descontos que vinham em seu contracheque e acabavam com o seu salário, mas nunca deu muita importância. Inclusive, o contador interno da empresa gostava de Carlos e sempre dizia a ele: “Fique de olho no seu salário Carlos, daqui a pouco você vai precisar entregar a Declaração do Imposto de Renda”. Mas, Carlos estava tão focado em sua carreira que não ligava nem um pouco para esses comentários. E, de fato, ele era isento desse imposto, então não precisava nem pagá-lo, nem entregar a declaração.

Mas, com o tempo, Carlos se mostrou tão organizado e bom com cálculos que ele foi novamente promovido, mas desta vez ao setor financeiro da empresa. Com isso, ele passou a ganhar R$ 2.000,00. O aumento salarial foi mínimo, mas o que chamava atenção era o cargo e as funções que ele desempenharia. Afinal, ele estava mesmo crescendo na empresa!

Ricardo, contador amigo de Carlos, resolveu então mostrar que, financeiramente, a promoção nem tinha sido tão boa assim; pelo contrário, Carlos passaria a ganhar menos!

Quando ganhava R$ 1.900,00, Carlos recebia por ano R$ 22.800,00 e não pagava imposto de renda. Porém, ao passar a ganhar R$2.000,00, Carlos passou a receber R$ 24.000,00 por ano. Isto fez com que ele devesse pagar imposto de renda, que correspondia a R$ 1.671,49 por ano. Então, ele não receberia R$ 24.000,00 no ano, mas sim R$ 22.328,51. Portanto, ele receberia menos do que antes da promoção!

De fato, ele não ligava muito para o aumento. Mas também não queria ganhar menos. Afinal, ao longo de sua ótima trajetória na empresa e aumentos salariais, ele fez algumas dívidas. Ele havia financiado um carro, passado a pagar sua faculdade (já que seus pais já não tinham condições) e, junto com os irmãos, contribuía com o plano de saúde dos pais. Mas, afinal, a empresa não poderia fazer nada. Na verdade, ela estava realmente pagando mais para Carlos; o imposto de renda é que fez com que ele recebesse menos.

Agora, conheça a Patrícia e veja que, mesmo que você não passe a ganhar menos, o imposto de renda pode sumir com o que você ganhou com a sua promoção.

A Patrícia é apaixonada em moda e estética e, quando tinha 19 anos, entrou como assistente em uns dos departamentos da Nature Cosmetics. Inclusive, quando ela tinha 22 anos, a empresa deu um curso completo de maquiagem a todos os funcionários que se interessassem. Claro que a Patrícia fez o curso e foi a melhor aluna. Isso chamou a atenção da diretoria e a carreira crescente dela teve início.

Como ela sempre demonstrou muito interesse, a empresa pagou diversos cursos de estética para a Patrícia. Sendo assim, 5 anos depois, a Patrícia poderia ter sido promovida a Diretora de Criação, mas como ainda era muito jovem, a empresa resolveu promovê-la a assistente do diretor, para que ela tivesse mais contato com o cargo e conhecesse as exigências dele.

Antes disto, a Patrícia cuidava das maquiadoras da marca, dava treinamentos e as ensinava a utilizar os produtos da melhor maneira. Neste cargo ela ganhava R$ 4.500,00, ou seja, R$ 54.000,00 por ano. De fato, ela estava muito feliz com o quanto estava ganhando e, principalmente, com o quanto já tinha crescido na empresa. Realmente, ela tinha um futuro brilhante!

Assim como Carlos, durante sua trajetória, conforme ela foi ganhando mais, a Patrícia foi se dando luxos que antes não podia. Ela havia comprado seu carro, já dividia o apartamento com o seu noivo e eles estavam guardando dinheiro para o casamento, que ocorreria em um ano e meio.

Ao ser promovida a assistente do diretor de criação, Patrícia sabia que não teria grande aumento salarial. Ao anunciar a promoção, a própria empresa a avisou de que esta promoção se trataria mais de um teste para ver se ela estaria apta ao cargo de Diretor de Criação. E, realmente, seu salário aumentou apenas R$ 300,00, ela passou a ganhar R$ 4.800,00. Esta quantia equivalia a R$ 57.600,00 no ano. De fato, o aumento não foi grande, mas qualquer coisa a mais seria destinada ao seu casamento: à locação do salão de festa, ao bufê, às bebidas, à decoração e até mesmo às flores.

O que Patrícia não esperava era que, com o acréscimo de R$ 300,00, seu imposto de renda aumentaria! Antes a empresa descontava dela R$ 10.432,46 no ano. Agora, ela passaria a descontar R$ 12.971,11. Isto, conforme o RH lhe explicou, era porque ela havia saído da alíquota de 22,5% e ido para a alíquota máxima do imposto, que era de 27,5%.

“Por conta de R$ 300,00?” Ela perguntou e a Márcia, que já tinha ouvido isto tantas vezes antes, apenas respondeu: “Sim, esse imposto é assim.”

Diferente do Carlos, a Patrícia não teve uma redução salarial. Antes da promoção ela recebia R$ 43.567,54 no ano (após o desconto do imposto de renda). Após a promoção ela passou a receber R$ 44.628,89. Isto é, a promoção lhe rendeu apenas pouco mais de mil reais.

Como visto em ambas as histórias, diante do imposto de renda, nem sempre uma promoção implicará em efetivo aumento salarial (mesmo que a empresa esteja te pagando mais). Isto acontece porque o imposto de renda é dividido em faixas de incidência. Em cada uma destas faixas, o imposto é maior do que na anterior. Então, caso você esteja perto do limite de uma das faixas, o acréscimo de R$ 100,00, R$ 200,00 ou R$ 300,00 pode significar, não que você esteja ganhando mais, mas sim pagando mais imposto.

*Nos descontos salariais não consideramos os outros descontos comuns, como previdência social.

Aline Guiotti Garcia, advogada tributarista.

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